terça-feira, 17 de julho de 2018

EDIFICANDO UM POVO QUE MINISTRA

IMPLICAÇÕES DE IDENTIDADE:
EDIFICANDO UM POVO QUE MINISTRA

 

INTRODUÇÃO

Podemos dizer que um dos grandes desafios do ser humano é o de conhecer aquilo para o qual empreenderá sua vida ou parte de sua vida. Sem um momento de silêncio e reflexão para procurar conhecer aquilo para o qual vamos nos dar e dar de nós é correr riscos para futuras decepções e infortúnios pessoais. Em outras palavras, é colocar em risco nossa própria vida.
O mesmo princípio é válido para a identidade de uma igreja. Conhecer a igreja de Cristo a partir de uma perspectiva bíblica é indispensável para a caminhada rumo à consolidação e continuidade da implantação de uma igreja sadia. Isto é fundamental para uma convivência humana como experiência de alegria, de cooperação, de fraternidade, de serviço, de missão e de crescimento pessoal e comunitário em Deus. O desconhecimento pode nos conduzir à tentação de fazer da igreja uma espécie de imagem daquilo que eu sou e penso, distorcendo uma visão bíblica de certos pontos sobre a identidade da igreja e impedindo a agilidade da comunidade cristã na sua vida comunitária e missionária.
Gostaríamos de abordar alguns apontamentos necessários para fixar em nossa mente, de uma vez por todas, aquelas questões bíblicas acerca do ser da igreja que poderíamos dizer serem inegociáveis, ou seja, valores que não se alteram e que possibilitam ao povo de Deus, nas demais áreas da vida da igreja, a serem criativos e mais do que isso, contextualizados, atualizados, enfim CONTEMPORÂNEOS.
Creio que de início uma questão precisa ser levantada: - Quais seriam as áreas específicas que nos devem interessar na igreja local, pensando em aperfeiçoar o povo de Deus, tornando seus membros relevantes uns para os outros e a igreja para o mundo?

1.            A Igeja não é apenas um amontoado de pessoas, ela é povo de Deus.


A bíblia é clara neste ponto: nós não somos apenas uma soma de pessoas. Somos um povo, temos um nome e com isto uma meta, uma missão, um referencial existencial.

2.            A Igreja não existe só por causa do seu culto de domingo.

Sua missão é mais ampla do que apenas reunir-se para  o culto e quando nos limitamos a participar da igreja só em função do culto, estamos limitando o que Deus pode fazer através de nós individualmente e socialmente. Há pessoas que podem estar pensando, “Ah, eu vou ao culto todos os domingos e acho que isto basta para ajudar a minha igreja”.

3.            Deve-se ter uma visão dos propósitos que Deus procura realizar através do seu povo.


Martim afirma que  “os cristãos têm, com freqüência, uma visão severamente limitada dos propósitos que Deus busca realizar através da igreja”.  Devemos concordar com tal afirmação pois o que percebemos na maioria das igrejas estabelecidas, pensando a nível de Brasil, é todo um trabalho e agenda voltados para a manutenção da igreja, dos trabalhos já existentes e para a consolidação dos sistemas e estruturas internas, sejam relacionados ao governo, evangelismo, louvor, educação cristã ou outra área qualquer. É como se todo o propósito de Deus se resumisse nisso: atas, paletó, departamentos internos, recursos materiais, conferências, etc.
Tanto no AT quanto no NT podemos perceber que os interesses e propósitos de Deus estão muito além deste conjunto de valores criados pelos nossos vícios e concepções reducionistas de igreja. Para confirmar esta observação, particularmente, aprecio muito o texto de Efésios 1.22 e 23:
“E pôs todas as cousas debaixo dos seus pés e, para ser o cabeça sobre todas as cousas, o deu à igreja,
a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as cousas”.
texto merece um estudo mais aprofundado, mas quero apenas que você observe as palavras grifadas (é o seu corpo), ou seja, a igreja é a expressão de Jesus Cristo. Quais foram os propósitos de Deus através de Jesus? A igreja só não salva, mas no que diz respeito à abrangência do ministério de Jesus, podemos afirmar ser de responsabilidade da igreja de Cristo.

4.            Deve-se ter uma visão do amor em que relacionamentos pessoais íntimos possam ser desenvolvidos.


“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros.
Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amos uns aos outros”.
Francis Shaeffer diz que “esta passagem revela o sinal que Jesus dá para rotular um cristão não somente numa época ou numa localidade, mas em todos os tempos e em todos os lugares, até a sua volta”. Esta é uma ênfase em todo o NT e em I João 3.11, João afirma que o amor é a essência da mensagem ouvida desde o início: “Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta, que nos amemos uns aos outros”.
Estejamos no Brasil, ou nos EUA ou em qualquer outro lugar somos chamados a eleger o amor como sinal da comunidade cristã. Estamos implantando uma igreja e o amor deverá ser um dos pilares fundamentais deste projeto. Devemos começar já neste caminho de amor. Este é um sinal inadiável, que não se deixa para começar amanhã. Deus nos livre de sermos uma comunidade de relacionamentos superficiais, de amor só de boca, ou de alienação em relação aos problemas dos outros. Quem ama se compromete, se doa e, acima de tudo, faz a vontade do Senhor.
A comunidade cheia de amor é o contexto em que os dons espirituais são exercidos. O contexto relacional do ministério também nos leva a explorar a natureza não-institucional da capacitação. Os dons - no sentido mais limitado do dom do corpo e no sentido mais amplo da capacidade como concessão geral do Espírito - devem expressar-se no contexto dos relacionamentos pessoais íntimos.
Um dos desafios a serem enfrentados por uma igreja que deseje edificar um povo que ministra é desenvolver uma comunidade de amor, como o contexto para o exercício dos dons do corpo, e para construir relacionamentos significativos com a comunidade que a cerca, a fim de possibilitar a continuação  no mundo.

5.            Deve-se aprender a fazer discípulos e não apenas membros de igreja.


Este ponto merecerá em outra oportunidade uma atenção maior uma vez que o fazer discípulos é a meta final da evangelização e da implantação de igreja. Afinal, o que se pretende com a nova igreja é que seja ela uma comunidade de discípulos e não apenas de crentes evangélicos.
A ênfase sobre a encarnação, tanto na nova aliança como nos ensinamentos sobre o reino, ajuda-nos a compreender como é vital o crescimento à semelhança de Cristo para um povo ministrador. Para representar Jesus no mundo, é absolutamente essencial que cresçamos em direção à maturidade cristã e isto só se realizará via discipulado. O que pretendemos ser não é um grupo de  crentes, mas de discípulos do Senhor.

6.            Deve-se guiar o povo de Deus para que seus membros tornem-se servos uns dos outros e do mundo.


O cristão  é chamado para envolver-se com outros em suas necessidades e expressar interesse de maneiras significativas. Veja que esta idéia revela a necessidade de construir relacionamentos sólidos, profundos e significativos. Importante para isto é criar uma disposição pessoal de relevância para os outros e ver no próximo o seu valor como pessoa humana. O alvo na comunhão dos santos é de relacionar-se com a necessidade humana a fim de gerar compromissos responsáveis com o próximo e despertar nele e em mim a atenção para o chamado de Deus para uma convivência dinâmica, sempre em crescimento e coesa.

7.            Deve-se providenciar treinamento, no ministério, para que os membros do corpo possam servir a Deus com eficiência.


Este ponto é parte da nossa filosofia pessoal de ministério e creio que também deva ser da igreja. O discipulado permanente deve ter como foco a edificação permanente em direção à maturidade e compromisso pessoal com todo o conselho de Deus.
A medida que o Espírito chama os crentes aos vários ministérios, dando-lhes uma visão e moldando-a, é preciso que sejam também equipados para o ministério. Este é o papel da educação cristã na vida eclesial.
Do ponto de vista daqueles que possuem e desenvolvem ministérios dentro da igreja, é necessário um espírito ensinável, desejoso de aprimoramento com vistas à excelência daquilo para que foram chamados a realizar. Deve-se evitar descansar em modelos pré-estabelecidos, o uso permanente de estratégias e métodos que conhecemos somente porque nos acostumamos com eles ou porque são os únicos que conhecemos e ainda, evitar aquele espírito maligno que sei tudo o que preciso saber na minha área de trabalho. Caso isto não seja verificado, ocorrerá que todo potencial, talentos e criatividade, uma vez sufocados, perderão o seu sentido e significado e a comunidade se tornará irrelevante e ineficaz em seu ministério.

8.            Deve-se possuir uma melhor compreensão da liderança no corpo de Cristo.


Ao mesmo tempo que somos levados a acreditar numa liderança qualificada em todos os sentidos, espiritual, moral, de conhecimento da Palavra e na comunicação e ministério, que possui a responsabilidade de ser modelo e padrão do féis, devemos pensar e construir os meios de como os líderes podem funcionar em conjunto com outros membros que também participam inteiramente em Cristo da responsabilidade de ser um povo de ministradores.

9.            Deve-se construir um pensamento bíblico acerca da missão e espiritualidade integral da igreja.


Ora, com isto estamos afirmando que o nosso papel como igreja de Deus é amplo e dirige-se para todas as esferas da vida. A visão de papel e ação da igreja deve ser ampla, procurando agir e influenciar na cultura, nas estruturas da sociedade, na espiritualidade de um povo, etc.
No que diz respeito ao ser da igreja, somos chamados a desenvolver nossa vida devocional particular quanto comunitária, a adoração (louvor, orações, etc), a sociabilidade (pic-nics, passeios, esporte, etc), o profissionalismo, etc...

10.          Deve-se cultivar um espírito aberto para uma estrutura dinâmica.


Devemos a todo o custo evitar os ranços estruturais (formas), que são criados por um pensamento pobre e reducionista quanto maneira da igreja ser e funcionar. Precisamos entender que a mudança não é má quando procura reparar uma situação ou organismo ineficiente e que não comunidade da melhor forma o evangelho ou a vida cristã. Não podemos enriquecer o ser da igreja por causa de métodos e estratégias arcaicas e superadas por questão de atualidade.

11.          Deve-se cultivar no processo de crescimento a idéia e a atitude de não se criar aquele sentimento de posse ou “senhores” de determinados ministérios, áreas e projetos na igreja.


Isto azeda o crescimento. Todas as vezes que determinadas pessoas se sentirem insubstituíveis na sua função além de causar indisposição nos membros do grupo, estará matando as novas vocações dons. A igreja já não será mais do Senhor, mas de famílias ou indivíduos que tiverem mais concentração de funções, podendo determinar a vida da igreja.

12.          Deve-se entender que a IGREJA é uma referência para um projeto maior do que ela mesmo.


Ela está abaixo do Reino. Ela deverá, no entanto, ser uma plataforma ou uma referência de um ministério maior, mais amplo, que extrapole os limites das questões internas na igreja.
Um grande perigo no processo de crescimento de um grupo é aquele em que se perde a visão de fora em função das demandas internas. Quando isto acontece, a igreja para de crescer. Há que cuidar da sua vida interna, prestando atenção na necessidade de amadurecimento dos seus membros, de suas estruturas e formas, porém, sem jamais, perder de vista que o mundo é o palco maior e final de sua missão.

13.          Deve-se entender que a Igreja é a cara dos seus membros.

Responsabilidade, entusiasmo, alegria, dinâmica são palavras que caracterizam a vida de uma gireja. Contudo, lembre-se que quemproduz esta “cara da igreja”são as pessoas que estão arroladas na igreja. O produto final da igreja é a soma das personalidades que ela abriga.

14. Você deve entender que a igreja precisa de você.


Sim, você não pode ser um membro inativo, disfuncional e sem envolvimento e participação. O seu talento, seus dons espirituais, o seu tempo, o seu parecer, sua habilidade estão a serviço do Reino de Deus desde o dia em que você se converteu. 

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